Mensagens

A mostrar mensagens de outubro, 2012

E porque não

Não posso esperar por te dizer isto. A voz doce é redundante. Mas ele insiste. Ao que o vais dizer pura e simplesmente ao telefone? Onde queres que te diga? Ao ouvido, devagarinho, de mansinho, de forma especial. Morde a língua respira fundo e espera, aguarda. A beber um café de manhã apercebi-me o quanto me fazes falta. Talvez tenha sido por não teres ainda acordado, porque eu estava lá, onde sempre estou, sobre a tua cama. Eu sei, eu sei. Baixa a cabeça e imagina-a na sua cama, nua. Metes-te ao menos açúcar no café? Não foi preciso, o teu sabor, dos teus lábios adocicou-me tudo o que meti à boca o dia todo. Eheheh. Morde o lábio e sorri como se nada fosse. A rua faz-se escura o sol, já se despedaçou no oceano. Mas dentro dele arde aquela chama. Porra Camões o autor não te queria evocar ao caso. E achas que o que tens para me dizer eu já não sei? Sabes? Sabes mesmo? Por trás dele a porta fecha-se, ficou quase 1 hor

Homem

Do edifício mais alto, coberto de insónia, fixa o homem a bruma das ruas, o atabalhoado trotear das gentes, fixa não por querer ver mas sim porque tal fadiga o mata, e ele fixa, na tentativa de dormir, descansado, só mais uma vez. Na terra em que vivemos, nesta terra, existe um homem, aliás vários homens, que há noite olham por nós, dos edifícios mais altos, dizem que eles próprios construíram, mas é mentira, pagaram a outros homens, e máquinas, e mulheres para os fazerem, estes os homens que estão lá no topo, estão apenas lá porque o sono não lhes toca, são brilhantes, tal como as estrelas, mas querem sempre mais, mais brilho, como o sol, muito mais, para que na sua retaguarda nunca se veja sombra apenas mais luz, estes homens a quem o sono não toca, têm responsabilidade, em relação a todos, mas mais que tudo em relação ao capital, é o que chamam ao dinheiro, eles pensam em formas de fazer mais, eu que olho, com olhos de sonhador, para o alto dos seus edifícios penso que é preciso ape

Transições

O velho - Uma nota, só, na pauta não é musica tal qual uma gota não é oceano. A razão assim prontinha o diz, bem engomadinha a racionalidade é o fraque do que é social o hábito aprumado do ansião a quem o tempo não mais preocupa, a fumar o seu cachimbo no cadeirão em pose pensada e aperfeiçoada ao longo de décadas, presunção de pensar que teria sido tudo num mero acaso, realidade é que esperava por tal situação, ao que o próximo gesto foi forçado, pensado e triturado pela massa encefálica, actor amador que ele é, um pito curvado de mogno e ouro que retirado da boca e apontando para o petiz irritado pela razão que suprema reina sobre o discurso do idoso. O jovem - A razão que fala também diz que fumar mata, apreguar sem praticar é um desprazer auditivo e moralmente condenável. O velho - Rapaz, rapaz, vieste até mim em busca de respostas não podes me culpar a mim se na realidade não era o que esperavas, quanto a mim não queres respostas, já as tens, o que procuras exactamente é aprova